Notícia

João Eduardo Justi - Publicado em 08-08-2025 13:00
Livro analisa perdas e resistências territoriais negras em Sorocaba
Lançamento da obra acontece dia 14 de agosto, em São Paulo (Imagem: Divulgação)
Lançamento da obra acontece dia 14 de agosto, em São Paulo (Imagem: Divulgação)
A professora Lourdes de Fátima Bezerra Carril, do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades (DGTH-So) do Campus Sorocaba da UFSCar, está lançando o livro "Perdas e ressignificações dos usos do território na história do negro - Sorocaba (SP)". O lançamento será no dia 14 de agosto, às 18h30, na Pequena Livraria da Alameda (Rua Treze de Maio, 353, São Paulo - SP), com entrada gratuita.

Resultado de pesquisas de longa data sobre territórios quilombolas da região, o livro é fruto de uma investigação desenvolvida com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), voltada especialmente para as comunidades do Cafundó e da Fazenda Pilar, situadas no entorno do Campus Sorocaba da UFSCar. Segundo a autora, essas comunidades têm buscado na Universidade não apenas suporte acadêmico, mas também parcerias para ações de extensão voltadas à educação quilombola e à regularização fundiária.

Organização e metodologia
A obra propõe uma análise da trajetória histórica da propriedade da terra no Brasil, com foco na exclusão da população negra do acesso formal à terra após a abolição da escravidão. O percurso parte de uma abordagem geral, com destaque para a Lei de Terras de 1850, até uma análise específica da presença negra em Sorocaba.

Para reconstruir essa história, a professora utilizou fontes primárias e secundárias, como entrevistas com lideranças quilombolas, pesquisas documentais, trabalho de campo e diálogos com autores que já estudaram a região, como Carlos Vogt e Peter Fry, com sua obra "A África no Brasil".

Perdas e resistências
A principal perda discutida no livro é territorial. Carril relata que, desde o final do século XIX, comunidades quilombolas vêm sofrendo com grilagens, desapropriações e vendas irregulares de terras, muitas vezes resultado de contratos abusivos ou ações municipais que desconsideram a presença e os direitos dessas comunidades. "Hoje, a Fazenda Pilar é um quilombo urbano, resultado da municipalização de terras tradicionais", explica.

Contudo, essas comunidades também desenvolvem formas de ressignificação e resistência, apropriando-se do território a partir das mudanças impostas pela urbanização e pela pressão econômica. "Nos quintais urbanos da Fazenda Pilar, as práticas tradicionais de cultivo de plantas medicinais, flores ornamentais e alimentos resistem como forma de preservação da memória e do conhecimento ambiental", afirma a autora.

Além disso, ela destaca resistências que vão da preservação do dialeto cupópia (linguagem utilizada na comunidade quilombola de Cafundó) ao enfrentamento direto das invasões territoriais, passando por estratégias de articulação entre o tradicional e o moderno.

Desigualdades espaciais no Brasil
Ao abordar a história territorial da população negra de Sorocaba, a autora revela como as desigualdades espaciais do Brasil contemporâneo estão enraizadas em processos históricos. Para Carril, a modernização brasileira se dá de forma seletiva e desigual, combinando avanços tecnológicos com a reiteração de formas tradicionais de exclusão social e espacial. A criação da Região Metropolitana de Sorocaba, segundo ela, aprofunda essa segregação, ao favorecer grandes empreendimentos em detrimento das comunidades tradicionais.

"A propriedade da terra continua sendo um instrumento de segmentação social. À medida que a urbanização avança, impõe novos ritmos e formas de inserção, geralmente desfavoráveis às populações negras e quilombolas", conclui.