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Adriana Arruda - Publicado em 08-05-2025 09:30
Aula Magna debate universidade, relações étnico-raciais e esperança
Evento teve a participação de Petronilha Gonçalves e Silva e Conceição Evaristo (Foto: Agnes Arato)
Evento teve a participação de Petronilha Gonçalves e Silva e Conceição Evaristo (Foto: Agnes Arato)
"Que tenhamos boas lutas. Sigamos fortes". A fala é de Petronilha Gonçalves e Silva, professora emérita da UFSCar, durante a Aula Magna 2025, realizada na tarde desta quarta-feira, 7 de maio, no Anfiteatro Bento Prado Júnior, no Campus São Carlos.

Com o tema "Formação universitária, relações étnico-raciais e esperança", o evento reuniu um auditório lotado de estudantes, docentes, técnico-administrativos e integrantes da comunidade externa - todas as pessoas interessadas em refletir sobre os desafios da universidade pública diante das desigualdades raciais.

Participaram do debate a própria Petronilha, presente no auditório, e a escritora Conceição Evaristo, que contribuiu remotamente. Ambas são referências na produção de conhecimento a partir de vivências negras e no compromisso com a transformação social por meio da educação.

A abertura da Aula Magna contou com a apresentação do grupo Aya Companhia de Dança, formado pelos artistas Ana Bia e Márcio Folha. A performance integrou dança em cadeira de rodas, danças urbanas, dança afro, capoeira, samba de roda e maculelê, expandindo as linguagens do encontro e marcando o início do evento com um gesto de inclusão e pertencimento.

Além de Petronilha e Evaristo, a mesa solene foi composta pela Reitora da UFSCar, Ana Beatriz de Oliveira; por Douglas Verrangia, Pró-Reitor de Graduação; e por André Pereira da Silva, Secretário da Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (SAADE) da Instituição.

Esperança como resistência e projeto coletivo
Segundo Verrangia, o avanço na presença de estudantes negras, negros, pardas, pardos e indígenas nas universidades é inegável, mas ainda há desafios diários. "Neste ano de 2025, dos mais de 2500 estudantes que ingressaram na UFSCar, 55% são oriundos de escolas públicas e 31% são pretas, pretos, pardas e pardos. Nós tivemos mais 85 estudantes provenientes de muitos povos indígenas dos estados do Amazonas, Pará, Pernambuco e São Paulo. Nossa luta é árdua, mas a diversidade é um valor que a nossa sociedade deve celebrar. Somos uma Universidade que tem coragem de ter esperança", ressaltou o Pró-Reitor.

Conceição Evaristo, ao refletir sobre o papel da linguagem na luta por justiça social, pontuou: "Com a literatura, temos a possibilidade de falas - escrita e oral. A linguagem não só nos coloca no mundo, mas nos dá a possibilidade de pensar e de criar outro mundo. Em tempos de ataques feitos às universidades e discursos de desvalorização do ensino universitário, seguimos na luta para impor a nossa linguagem nesses espaços. Que possamos esperançar, aquilombar".

Durante sua participação, Petronilha lembrou que a educação para as relações étnico-raciais vai além do espaço escolar. "Estamos falando de um projeto de sociedade que nos obriga a refletir sobre o que estamos construindo e o que desejamos construir. A forma como nos olhamos e nos dirigimos uns aos outros revela esse projeto. Sabemos que há diferentes propostas de sociedade, muitas vezes conflitantes, e é no diálogo - mesmo entre divergências - que seguimos construindo o futuro coletivo."

A Reitora da UFSCar destacou a importância de iniciar o ano letivo com um evento que articula formação acadêmica e compromisso com justiça social. "Combater o racismo é fundamental para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária. Isso passa pelo reconhecimento de práticas cotidianas que o sustentam e pela valorização da produção intelectual de pessoas negras - cujas histórias e culturas foram, por muito tempo, silenciadas. É preciso assumir uma postura ativa de escuta e aprendizado. Convidamos todas as pessoas a se engajar nesse processo coletivo de transformação", afirmou Oliveira.

A Aula Magna foi transmitida ao vivo pelo canal da Universidade no YouTube e está disponível na íntegra. Assista aos destaques no Instagram da UFSCar.

Campanha UFSCar Antirracista
Durante o evento, foi lançada oficialmente a campanha UFSCar Antirracista, que reúne ações, diretrizes e canais institucionais voltados ao enfrentamento ao racismo e à promoção da equidade racial. A iniciativa faz parte da campanha contra a discriminação e violência da UFSCar, que tem como mote "Discriminação não cabe na UFSCar. Aprenda, ensine: Violência é crime e aborda, entre diversos temas, o racismo.

Segundo André Silva, Secretário da SAADE, a Universidade tem uma trajetória de protagonismo em políticas de responsabilidade social e a campanha Antirracista é mais um passo nesse caminho. "A iniciativa fortalece a luta institucional contra o racismo e, ao mesmo tempo, facilita o acesso da comunidade às políticas já existentes, por meio de um portal dedicado, que integra denúncia, acolhimento, indicadores e produção científica sobre o tema".

O site da campanha apresenta as principais políticas da Universidade para o combate à violência e à discriminação racial, o contato das unidades de acolhimento e denúncia, um painel com dados atualizados sobre ações afirmativas, além de um repositório de trabalhos científicos e uma agenda de eventos voltados à temática das relações étnico-raciais.

O acesso está disponível em www.antirracista.ufscar.br.