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Fabricio Mazocco - Publicado em 28-11-2018 13:00
Estudo aborda o humor em livros didáticos de Inglês
Artigo foi publicado na revista Literartes. (Imagem: Reprodução)
Artigo foi publicado na revista Literartes. (Imagem: Reprodução)
É comum encontrarmos histórias em quadrinhos de humor em livros didáticos de Inglês. Mas quais são as possíveis discursividades que atravessam esse tipo de material? Essa é uma das perguntas que motivou Ilka de Oliveira Mota, docente do Centro de Ciências da Natureza (CCN) do Campus Lagoa do Sino da UFSCar, a desenvolver um estudo que resultou na sua tese de doutorado, defendida no Departamento de Linguística Aplicada (DLA) do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O estudo também foi publicado em artigo intitulado "O humor em tiras em quadrinhos" pela revista Literartes, da Universidade de São Paulo (USP).

O artigo traz para a reflexão o funcionamento discursivo do humor em tiras em quadrinhos presentes em livros didáticos de Inglês. O objetivo foi compreender o funcionamento discursivo do humor levando em consideração o lugar de sua produção: tiras em quadrinhos.

O interesse da autora pelas histórias em quadrinhos vem tanto de sua infância, época em que lia esse tipo de gênero textual, quanto da sua relação como professora com o ensino de Língua Inglesa em escolas públicas do Estado de São Paulo, entre os anos de 1999 a 2002. "A respeito do humor, desde a mais tenra idade tenho identificação com o discurso humorístico. Sempre gostei de piadas e de pregar peças nas pessoas, como tocar campainha das casas alheias e sair correndo e imitar colegas, especialmente aqueles com os quais eu tinha uma certa antipatia", revela Mota. E esclarece: "Neste último caso, era o cômico, conforme a distinção estabelecida por Freud, que estava fortemente presente em minha vida".

Na esteira materialista aberta por Michel Pêcheux (1982) e Milner (1987), a autora parte do pressuposto de que o humor e a poesia não são o "domingo do pensamento"; eles pertencem, isto sim, aos "meios fundamentais de que dispõem a inteligência política e teórica" e considera, junto com o segundo autor, que "nada da poesia é estranho à Língua". Noutros termos, para Mota, o humor e a poesia são constitutivos da Língua e da história, sendo que a Língua só significa na sua relação com a história.  

O objeto de pesquisa foi livros didáticos de Inglês como Língua Estrangeira dos ensinos Fundamental e Médio que circularam em escolas públicas de Campinas (SP) e região. Ancorada no aparato teórico-metodológico da Análise de Discurso na interface com os estudos freudianos sobre o campo da comicidade, entre outros resultados, a pesquisa mostrou que em todos os recortes apresentados, a Língua comparece como espaço de jogo, dando lugar a deslizes, atestados pela existência da comicidade na interface com a arte quadrinizada. Como exemplo, a autora cita o sistema linguístico, surpreendendo sua própria estrutura significante; a ideia de que o humor é uma "mera brincadeira", sem maiores consequências para a subjetividade e o psiquismo; e a ideia de que textos quadrinizados não servem como potenciais objetos de ensino. 

Também foi observado pela pesquisadora que o material apresentado é permeado por vários traços culturais, já que há sempre uma relação necessária da comicidade e da arte quadrinizada com o ambiente sociocultural. Desta forma, os estudos indicaram que a relação entre o campo da comicidade e a arte quadrinizada apresenta um funcionamento bastante peculiar e se revela um lugar profícuo para a produção da leitura tanto no contexto didático-pedagógico de Línguas (materna e estrangeira) quanto fora dele.

O artigo completo pode ser conferido no site da revista.