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Denise Britto - Publicado em 26-01-2022 08:00
Livro ressalta importância dos saberes populares para a Linguística
E-book tem acesso livre e gratuito (Imagem: Reprodução)
E-book tem acesso livre e gratuito (Imagem: Reprodução)

Valorizar e tornar mais acessíveis os saberes linguísticos de pessoas que não estudam a linguagem de um ponto de vista acadêmico: esses são alguns dos objetivos do livro "Linguística popular/Folk linguistics: saberes linguísticos de meia tigela?", que acaba de ser lançado pela Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), com acesso livre e gratuito.

"A expressão meia tigela, marcada por uma interrogação, presente no subtítulo do livro, foi pensada como uma espécie de analogia em relação ao pouco valor que a grande maioria dos linguistas brasileiros atribui aos saberes dos não especialistas em linguagem", explica Roberto Leiser Baronas, docente do Departamento de Letras (DL) da UFSCar, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e um dos organizadores do livro, ao lado de Tamires Cristina Bonani Conti, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) da UFSCar e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); e Marcelo Rocha Barros Gonçalves, docente da UFMS, campus de Coxim, e pós-doutorando do PPGL-UFSCar. 

Baronas afirma que "a Linguística Popular é um campo de estudos da linguagem que busca compreender as práticas linguísticas - percepções, avaliações, crenças, atitudes, intuições linguísticas - dos não especialistas, isto é, das pessoas que não têm formação nas ciências da linguagem". 

Segundo o professor da UFSCar, para contribuir com o debate sobre a pertinência e a relevância dos saberes populares, o livro se baseia em estudos realizados por pesquisadores ligados a diferentes instituições espalhadas em diversos países do mundo. "Nós, linguistas, perdemos muito em nossos trabalhos ao não incorporarmos esses saberes leigos em nossas pesquisas. Saberes leigos que são perfeitamente integrados em outros campos do conhecimento como a Medicina, a Biologia, a Psicologia, por exemplo", defende.

Baronas descreve que, no campo de estudos da Linguística Popular, as práticas linguistas dos não especialistas são pensadas a partir de quatro eixos: práticas prescritivas - as que prescrevem determinados usos linguísticos em detrimento de outros - por exemplo, não diga "eu vi ele"; práticas descritivas - as descrevem determinado fenômeno linguístico ou uma determina língua - por exemplo, o trabalho de Amadeu Amaral em "O Dialeto Caipira", acerca do "r" retroflexo; o terceiro eixo são as práticas intervencionistas - que propõem a substituição de determinados termos com carga pejorativa por outros menos marcados - por exemplo, toda a polêmica gerada pela cantora Anitta em relação ao significado do termo "patroa" no dicionário do Google; e, por fim, as práticas militantes, que propõem a ressignificação de determinados termos que nos seus usos predominantes possuíam um sentido negativo e que passam a ter um sentido positivo e se tornam, inclusive, uma bandeira de luta de um determinado coletivo; um exemplo é a expressão "Marcha das Vadias".  

O livro
Baronas salienta que a ideia da publicação surgiu da necessidade de referências bibliográficas no âmbito do Português brasileiro sobre a Linguística Popular: "Quando o livro foi organizado em meados de 2020, não havia nem um livro sobre essa temática no contexto brasileiro. Até então havia alguns artigos esparsos, publicados em periódicos nacionais". O e-book é destinado "a todos os interessados em questões de linguagem e que militam por uma sociedade menos racista, preconceituosa e misógina".

O docente conta que "a obra é o resultado de um duplo trabalho coletivo, pois envolveu inicialmente a participação de pesquisadores de diferentes instituições e espaços geográficos - Brasil, França, Alemanha, Portugal, Estados Unidos... - e, num segundo momento, a participação de pesquisadores brasileiros em diferentes estágios de formação na tradução e elaboração dos capítulos e das entrevistas que compõem a coletânea".

Com base nesse duplo trabalho coletivo, o livro foi organizado em quatro grandes partes. As três primeiras têm relação com os domínios de atuação da Linguística Popular, isto é, com as perguntas que esse campo é frequentemente interpelado a responder: epistemologia; diálogos e aplicação. A última, por sua vez, traz duas entrevistas com linguistas populares.

Mais informações sobre o e-book "Linguística popular/Folk linguistics: saberes linguísticos de meia tigela?" (disponível em https://bit.ly/3K3TB20) podem ser obtidas pelos e-mails dos organizadores da obra: baronas@ufscar.br, marcelo.barros@ufms.br e tamy_bonani@hotmail.com, bem como no Canal de Linguística popular/Folk linguistics no YouTube e na página do Laboratório de Estudos Epistemológicos e Discursividades Multimodais (LEEDIM) no Facebook.